Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Turismo e Hospitalidade: Conceitos de saber, saber-fazer, saber-ser e a sua importância para um atendimento de qualidade ao turista em hotéis.

Vânia de Amorim Schaffer Torres

Saber pode ser definido como “Conhecer, ser informado ou ter conhecimento de algo, ser instruído em algo”, contudo a globalização impõe às empresas prestadoras de serviços hoteleiros uma nova postura: agir com mais lisura e profissionalismo, e aperfeiçoar-se na qualidade desses serviços. Isso implica atender e exceder às expectativas de um cliente cada vez mais consciente e exigente: o hóspede.
A palavra HOTEL originou-se do francês que significa originalmente “Residência do Rei”. O serviço de hotelaria é conhecido pela qualidade oferecida aos clientes que buscam conforto, comodidade, segurança e bem-estar. HOSPITALEIRO é o que dá hospedagem, que acolhe com satisfação. 
De acordo com Gondim & Cols (2003), o saber-ser está relacionado com características pessoais que contribuem para a qualidade das interações humanas no trabalho e a formação de atitudes de autodesenvolvimento. O saber-fazer se refere às habilidades motoras e ao conhecimento necessário para o trabalho. 
Avançar sobre o saber-fazer direciona uma nova agenda para os estudos hoteleiros, em temas como a motivação, as escolhas, as necessidades, o prazer, as diferenças suportáveis, as trocas culturais, a aprendizagem, a desterritorialização, a homogeneização, a destruição ambiental, o impacto cultural e social, a comunicação intercultural, a hibridização cultural, o tempo atemporal e o espaço virtual.
Saber para Tardif (2000, p.11) “engloba os conhecimentos, as habilidades e as atitudes, ou o saber-fazer e saber-ser”. Especificar esses saberes envolve um movimento das pesquisas a fim de determinar um repertório de conhecimentos específicos à profissão, que se constitui do conjunto de saberes, de conhecimentos, de habilidades e atitudes que um profissional do turismo necessita para realizar seu trabalho num contexto geral.
Hoje ser competente não significa mais ter somente o conhecimento técnico na atividade que está exercendo, mas também ter habilidade e atitude para solucionar problemas e disposição para trabalhar ativamente no ambiente de trabalho, tomando decisões e assumindo responsabilidades com base no trabalho proposto.
A habilidade no trato com as pessoas é determinante para a qualidade de vida. O saber-ser é relacionar-se com o outro, isso ajuda a resolver boa parte dos problemas de ordem pessoal e, na verdade, facilita muito a vida em sociedade.
No cotidiano hoteleiro, “elos de afetividade” se formam, propiciando trocas, interesse, criatividade, disposição para exaustivamente sanar dúvidas, estimular o profissional. Em outras palavras, o papel do profissional acaba estabelecendo um jogo de sedução – conquistar a atenção do hospede. Evidentemente, esse envolvimento pessoal com o hóspede, essa ligação afetiva só pode ocorrer de forma parcial, considerando, sobretudo, o fato de que o contato é temporário, limitado à estadia dele, à permanência do hóspede no hotel ou à atuação do profissional no estabelecimento hoteleiro.
As práticas profissionais que envolvem emoções suscitam questionamentos e surpresa na pessoa, levando-a, muitas vezes de maneira involuntária, a questionar suas intenções, seus valores e suas maneiras de fazer. Esses questionamentos sobre a maneira de entrar em relação com os outros, sobre os efeitos de suas ações e sobre os valores nos quais elas se apoiam “exigem do profissional uma grande disponibilidade afetiva e uma capacidade de discernir suas reações interiores portadoras de certezas sobre os fundamentos de sua ação”. (TARDIF, 2000, p. 17).
Nem sempre é possível avaliar as possíveis necessidades de um cliente. Infelizmente, jamais haverá uma certeza de todas as necessidades de uma pessoa. Entretanto, isso não pode ser usado como desculpa para não atender com profissionalismo. É preciso criar novos serviços que atendam os clientes, cujas necessidades mudam continuamente. Os serviços hoteleiros precisam dimensionar o quadro de pessoal com vista dessas demanda e também para lidar com o fato de que os clientes sempre demandam serviços fora do horário normal de trabalho, o que significa dispor de pessoal preparado, qualificação para atender estas necessidades vinte quatro horas por dia, com isso o hotel necessita manter seu corpo funcional muito bem treinados, motivados e cientes das suas responsabilidades e objetivos, capaz de manter e desenvolver o necessário grau de compreensão exigido para responder às necessidades, mesmo as não expressas, nesse contexto deve-se enfatizar o papel psicológico desse profissional, que deve interpretar como forma de entender o comportamento do cliente para poder agir com certeza e precisão, o que não existe um manual de ações aplicados em todos os casos, já que o comportamento humano varia de pessoa para pessoa. Por exemplo, um grupo de terceira idade que chega a um hotel, mesmo sendo um grupo homogêneo em termos de faixa etária, obviamente apresentará comportamentos diferentes, pois cada integrante tem necessidades pessoais conscientes e inconscientes a serem satisfeitas. 
O mercado hoteleiro tem valorizado o profissional com habilidades pessoais, que sabe respeitar as hierarquias, manter relações interpessoais com os colegas e demais setores, capazes de resolver os problemas através do diálogo. Saber se comunicar, negociar no grupo, apresentar as próprias ideias, discutir, ser curioso, saber ouvir, valorizar a opinião dos membros do grupo e perceber como a diversidade de visões sobre um mesmo problema enriquece uma discussão são atributos indispensáveis para o processo do trabalho em hotelaria.
Contudo, é bom lembrar que competências profissionais diversificadas favorecem o ingresso no mercado de trabalho, porque possibilitam que o profissional articule seus conhecimentos em diferentes campos do saber. O mercado está cada vez mais competitivo e terá espaço o que estiver mais bem preparado, é importante estar aberto a mudanças e inovações.
Atualmente exige-se do profissional em hotelaria, competências como: aprender a pensar, identificar, reconhecer e definir problemas – formular alternativas, dar soluções, avaliar resultados; pensar estrategicamente, responder criativamente a novas situações, atuar preventivamente, introduzir modificações nos processos de trabalho; integrar atividades, dominar conceitos e tarefas constantes do núcleo de ocupações afins.
Já não basta fazer as coisas da maneira como sempre foram feitas. É preciso fazê-las melhor a cada dia. É preciso pensar criativamente. É preciso pensar o trabalho!

Referências Bibliográficas
GONDIM, S. M. G. e COLS. (2003). Perfil Profissional, Formação Escolar e Mercado de Trabalho segundo a Perspectiva de Profissionais de Recursos Humanos. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 3 (2), pp 119 – 152

TARDIF, M. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários. In: REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO. Jan/fev/mar/abr, 2000, n. 13 ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.

SILVA, F. B. da. A psicologia dos serviços em turismo e hotelaria: entender o cliente e atender com eficácia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

Turismo e Hospitalidade: SÍNTESE DO TEXTO POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO TURISMO: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA NACIONAL DE MUNICIPALIZAÇÃO DO TURISMO DE LEANDRO BENEDINI BRUSADIN.

Vânia de Amorim Schaffer Torres

O autor coloca que existe na realidade ideias controversas em torno dos impactos causados pelo turismo, podendo ser eles positivos ou negativos. Isso devido suas políticas e planejamentos perpassarem por diversas camadas com diferentes ideais, o que acaba por dificultar suas análises.
O texto analisado amplia a compreensão dos elementos envolvidos no planejamento do turismo no Brasil a partir da implantação do Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) em particular em São Paulo.
Quando se faz um planejamento bem feito, tem-se o retrato real de uma localidade, a partir daí pode-se analisar se tal localidade possui infraestrutura, mão-de-obra, dentre outros fatores, e aí então deve-se ou não implantar o turismo. É errôneo pensarmos que todas as localidades são próprias para o turismo, pois além dos atrativos naturais, devemos analisar o que a atividade turística trará para a localidade.
Quando fazemos um mal planejamento, consequentemente traremos prejuízos sociais, culturais, ambientais e econômicos para a localidade. Contudo o planejamento poderá diminuir os impactos negativos da atividade turística e aumentar os retornos esperados dos destinos.
Ainda segundo o autor o planejamento público da atividade turística direcionada pelo Estado, muitas vezes só se importa com as questões econômicas e a sazonalidade da atividade, deixando para segundo plano os objetivos reais dessas políticas, que são as questões sociais. O Estado repassa suas responsabilidades para o setor privado, esquecendo-se do seus principais objetivos, o que torna cada dia maior a importância da participação da sociedade nos projetos relacionados ao turismo.
Através de um planejamento não podemos prever o futuro, o planejamento não pode ser estático, ele para funcionar adequadamente e efetivamente deverá ser revisto, analisado e reanalisado. O planejamento não deve ser apenas “racional”, esse deve levar em conta diversas variáveis, as questões de sustentabilidade não dever ser vista apenas nas suas questões técnicas, mais abranger diversos segmentos, pois a sustentabilidade não se refere apenas ao meio ambiente, mais ao todo, até porque as comunidades estão inseridas nesse meio e são essenciais para seu pleno funcionamento.
No Brasil a primeira política pública do turismo só ocorreu a partir de 1966, contudo essa restringiu-se a investimentos de infraestrutura física, esquecendo-se de investir na capacitação e qualificação da mão-de-obra das comunidades locais. A segunda política nacional de turismo ocorreu por volta de 1991, após a reformulação dos poderes da EMBRATUR, pois a partir de então o órgão passou a formular, coordenar e executar políticas.
No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (FHC) de 1996 a 1999 as políticas nacionais de turismo baseou-se na estabilidade econômica, com objetivos voltados a redução dos desequilíbrios sociais e espaciais. Durante o período de 1994 a 2001, foram incluídas metodologias participativas, segundo modelos usados na Alemanha nas décadas de 70 e 80. Nessas metodologias participativas eram feitas análises através de oficinas, que eram multiplicadas para Estados e municípios e a partir disso construía-se projetos baseados na vivencia e realidade das localidades.
O Mtur foi criado em 2003, no governo Lula, juntamente com diversos outros órgãos ligados ao turismo e nesse momento a EMBRATUR diminuiu seus poderes, passando apenas a promover e divulgar o nosso turismo.
O Plano Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), primava descentralizar as políticas públicas e ajudar no planejamento turístico dos municípios, buscava contemplar as potencialidades vivenciadas em cada localidade, focando acima de tudo questões voltadas na economia, sociedade, meio ambiente, cultura e política. O processo de implementação de PNMT era longo, passava por várias etapas, desde o preenchimento de relatorias, treinamentos de multiplicadores, conscientização das localidades, formação de Conselho Municipal de Turismo (CMTur) até conseguir efetivá-lo.
Para se fazer uma análise do Programa no Município de Altinópolis S.P, foi necessário o registro sistemático e metódico, independente de cada agente envolvido a fim de se chegar a uma conclusão que não fosse influenciados pelos diversos segmentos deram seus focos.
Para se ter uma visão dos gestores, foi realizada uma pesquisa semiestruturada com a gerente nacional do PNMT, onde foram analisados aspectos quantitativos durante oito anos das ações do PNMT e chegou-se a conclusão que o RINTur não era muito confiável, uma vez que suas informações são fornecidas pelos próprios municípios, sem base técnica, critérios metodológicos definidos cientificamente e que o mesmo não poderia substituir o inventário turístico. Segundo o relatório PNMT 8 anos (2002), esse considera o projeto bem sucedido, uma vez que através dele busca-se incentivar e estimular as localidades locais, através de metodologias eficazes para o seu sucesso. Nota-se aí que tal relatório não contempla as dificuldades encontradas nos municípios, pois acaba tratando-se de um relatório superficial.
As questões de verbas do PNMT são confusas, uma vez que não era repassado dinheiro para os municípios, pois se investia em oficinas, onde a EMBRATUR era a intermediárias de tais gastos. Analisando-se os dados da tabela 3 de oficinas realizadas pelo PNMT, verifica-se que a 2ª fase (Capacitação) nem todos que participaram da sensibilização se capacitaram e que na 3ª fase (Planejamento) corresponde a aproximadamente 65% da 1ª fase (sensibilização), e isso ocorre pela deficiência de profissionais no turismo. 
Na visão dos acadêmicos dois relatam a fragilidade do PNMT devido ter caráter institucional, de conscientização, outro relata que o PNMT tem configuração distinta a países desenvolvidos com índices educacionais bem maiores que do Brasil.
No contexto do Município de Altinópolis SP, foram entrevistados o secretário de turismo e lideres da comunidade, estes qualificam o PNMT não muito bem vistos, pois a metodologia e a falta de identificação com o turismo local, acabou dificultando a implementação do mesmo.
Para finalizar observa-se que o surgimento de diversos questionamentos baseia-se na realidade atual da atividade turística, visto que um turismo compatível com desenvolvimento nacional e as reais necessidades locais às vezes se confrontam, pois a medição através do quantitativo observa apenas o número de municípios participantes, porém os municípios não foram analisados qualitativamente, contudo verifica-se a continuidade do processo do PNMT em alguns municípios foi interrompido devido ao ”efeito sanfona” existente durante muitos anos no nosso país, pois a depender do partido político que assumisse o poder as políticas públicas teriam continuidade ou não, algo que parece bem característico do Brasil, que pensa políticas públicas como sendo políticas partidárias.

REFERÊNCIA

BRUSADIN, L.B. POLÍTICAS E PLANEJAMENTO DO TURISMO: Avaliação do Programa Nacional de Municipalização do Turismo. Disponível em:< ........... > Acesso em: 30 Nov. 2013.

Turismo e Hospitalidade: O saber-ser e o desenvolvimento da competência social do profissional do turismo.



Vânia de Amorim Schaffer Torres

O estudo do comportamento humano, é quase tão antigo quanto à própria humanidade, começou com os filósofos gregos, que se dedicaram à análise das ações humanas e das suas causas. Sabemos também que na pré-história, os primeiros humanos foram nômades, aquele que não tem habitação fixa, ou ainda refere-se às tribos ou etnias que não se fixam em lugares durante muito tempo, isso devido à busca de alimentos, fuga a animais ferozes, ou simplesmente curiosidade em desbravar um espaço desconhecido. Isto nos leva para a palavra turismo, originada, tem seu nome derivado do Francês tour, “volta, circuito, volta ao redor”, de tourner, “fazer a volta”, do Latim tornare, “fazer dar a volta, polir, girar um torno”, que veio de uma fonte Indo-europeia ter-, “dar voltas, dobrar”. O agente deste giro é denominado Turista, que segundo a ONU, “refere-se a todo o visitante temporário que permanece no local visitado mais de 24 horas”. Atualmente, a globalização, o tempo livre, a fuga à rotina, a rapidez dos meios de transporte, a moda das viagens, levam estudiosos de ambos os lados a perceber as motivações que levam os indivíduos a deslocar-se de um local para outro. Percebemos já o cruzamento entre ação humana e deslocações pelo território, ou seja, pode ver-se aqui uma relação entre a psicologia e o turismo. A psicologia estuda o ser humano, nas suas relações consigo, com os outros e com o meio. É a palavra, interação, que põe em contato, a psicologia com o turismo, e aqui todos concordamos que turismo é um espaço privilegiado, de encontro entre indivíduos, povos, culturas e civilizações. As relações entre os indivíduos implicam pensamentos e emoções. Hoje quer os indivíduos, os turistas, quer os agentes turísticos, precisam avaliar e cruzar as suas necessidades, expectativas, a cada momento, porque nós humanos, mudamos a cada instante, em consequência das nossas experiências, contatos, emoções e pensamentos. O que a psicologia procura enfatizar é que o homem é um ser social por natureza, que busca uma vida agradável e que lhe ofereça diversidade de atividades, por isso o sucesso de um negócio turístico depende, em grande parte, da capacidade de resposta, às necessidades e preferências dos consumidores. Este é o papel importante da psicologia, ajudar a entender a mente humana, os seus anseios e particularidades, para criar novos modos de satisfação dessas necessidades e ajustar as já existentes. Em síntese podemos afirmar que o homo turísticus, valoriza a ideia do “giro”, do “círculo”, da viagem, em busca de novos encontros novas realidades, novas gentes. Para que isso ocorra satisfatoriamente é necessário, fazer com que eles voltem mais vezes e, também, que o turista se envolva se apaixone tanto pelo destino que seja capaz de convencer outras pessoas a visitá-lo também.
Em consequência disso, no contexto atual, os debates sobre a formação do profissional de turismo, indicam a configuração de um novo paradigma de formação, deslocando o foco de análise da dimensão técnica (saber-fazer) para a discussão na dimensão das atitudes (saber-ser), explicitando o sentido das experiências nas aprendizagens profissionais. Significa refletir sobre a necessidade de articulação entre teoria e prática, compreendendo a trajetória profissional, vivenciada no contexto, no dia-a-dia da trajetória profissional.
De acordo com Gondim & Cols (2003, p.119-152.), “o saber-ser está relacionado com características pessoais que contribuem para a qualidade das interações humanas no trabalho e a formação de atitudes de autodesenvolvimento”. 
O primeiro requisito do profissional de turismo é gostar de cuidar das pessoas, ou seja, atender bem seu passageiro, saber se ele está sendo bem servido, bem acolhido, bem tratado. Para isso, é preciso paciência, tolerância, persistência, conhecimento sobre as diversas culturas, muita ética para lidar com questões delicadas de seus turistas, principalmente as de cunho pessoal, com que ele deve evitar se envolver. O profissional de turismo está sempre viajando, participando do lazer, mas não poderá nunca esquecer que está sempre a trabalho. 
Sabemos que, no turismo, o epicentro do fenômeno é de caráter humano, pois são os homens que se deslocam, e não as mercadorias, o que impõe complexidades ao esforço de uma argumentação sistemática dessa realidade. De saberes específicos que não são únicos, no sentido de que não compõem um corpo acabado de conhecimentos, pois os problemas da prática do profissional de turismo não são meramente instrumentais, mas comportam situações problemáticas que requerem decisões num terreno de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflito de valores, produzindo modos de ser e de agir essenciais no desenvolvimento de suas ações profissionais.
Saber apenas é importante para que se enxergue a melhor maneira de executar o trabalho com conhecimento e direcionamento. No entanto, saber-ser é parte do triângulo do sucesso, falta-lhe ser acompanhado pala afetividade, intensidade e qualidade.
No saber-ser colocamos afetividade, intensidade, e quando fazemos isso, significa colocar paixão em tudo que se faz, para fazer sempre melhor, procurar saber cada vez mais e querer alcançar os melhores resultados. Contudo não podemos esquecer-nos de acrescentar a qualidade, pois essa pode ser descrita como o aperfeiçoamento do saber, a compreensão aprofundada a respeito da motivação e a melhoria dos métodos e procedimentos. Quando o triângulo se forma e nele se investe tal qualidade, é possível avaliar a evolução resultante e se reforçar permanentemente.
O saber-ser (atitudes) implica comprometimento e compromisso social do trabalhador em relação à sua realidade, reconhecendo-se como sujeito capaz de transformar e melhorar essa realidade. A formação de competência social dos profissionais de turismo é um dos três objetivos primordiais da Psicologia do turismo, permitindo que esse profissional torne-se um sujeito capaz de pensar e decidir por si mesmo, livremente, sem preconceitos, preferindo o bem social e acentuando a personalidade e a capacidade de cada um. Esse profissional precisa aprender a enfrentar, a criar, a praticar os conhecimentos e não apenas absorvê-los. O profissional de turismo precisa saber lidar com gente, com seus sonhos e expectativas, pois é isso que move a atividade.
Hoje o fator crítico posiciona-se já numa fase mais avançada do ciclo de vida da pessoa, reside agora em cada profissional do turismo, em concreto, na sua atitude perante a oportunidade de fazer mais e melhor que os outros, na sua capacidade de gerar valor, de inovar, de a todo o momento ter a perspicácia na identificação da solução ou de uma solução. 

Referências Bibliográficas
Gondim, S. M. G. e Cols. (2003). Perfil Profissional, Formação Escolar e Mercado de Trabalho segundo a Perspectiva de Profissionais de Recursos Humanos. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 3 (2), pp 119 – 152.

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Turismo e Qualidade Tendências Contemporâneas. Campinas: Pampirus, 2002.

Turismo e Hospitalidade: Habilidades para o desenvolvimento de competência social do profissional de turismo.

Vânia de Amorim Schaffer Torres
De inicio, é importante esclarecer que quando falamos sobre competência estamos adotando sua definição mais amplamente utilizada: "Conjunto de conhecimentos, habilidades, comportamentos e aptidões que possibilitam maior probabilidade de obtenção de sucesso na execução de determinadas atividades."
Habilidade (do latim habilitate) é o grau de competência de um sujeito concreto frente a um determinado objetivo. 
Segundo Voltaire ter habilidade significa ser "mais do que capaz, mais do que instruído", pois mesmo aquele que houver lido e presenciado tudo sobre um determinado assunto, pode não ser capaz de reproduzir a ação na prática com êxito. Habilidade assim, seria um indicativo de capacidade, particularmente na produção de soluções para um problema específico.
Na área da educação, habilidade é o saber-fazer. É a capacidade do indivíduo de realizar algo, como classificar, montar, calcular, ler, observar e interpretar. A capacidade da pessoa em mobilizar suas habilidades (saber-fazer), seus conhecimentos (saber) e suas atitudes (saber-ser) para solucionar determinada situação-problema é chamada por alguns educadores como competência. Assim, entender os conceitos é uma coisa, interpretá-los é outra e posicionar-se diante disso é outra. Habilidade é o que nós aprendemos, e conseguimos identificar. Habilidade está ligada à competência, que é como vamos colocar em prática o que aprendemos. 
As habilidades estão associadas ao saber fazer: ação física ou mental que indica a capacidade adquirida. Assim, identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades. Já as competências são um conjunto de habilidades harmonicamente desenvolvidas e que caracterizam, por exemplo, uma função/profissão específica, nesse caso: ser profissional do turismo. As habilidades devem ser desenvolvidas na busca das competências. 
A competência é um conjunto de saberes e habilidade é um saber-fazer relacionado à prática do trabalho, mais do que mera ação motora. As habilidades são essenciais da ação, mas demandam domínio de conhecimentos. As competências/habilidades são inseparáveis da ação, mas exigem domínio de conhecimentos.
A competência profissional se refere à mobilização particular do profissional na sua ação produtiva de um conjunto de saberes que formam as competências intelectual, técnico-funcionais, comportamentais, éticas e políticas, capazes de gerar resultados pessoais, profissionais, organizacionais e também para a sociedade de um modo geral. Na verdade são todas aquelas que são obtidas através de educação formal, treinamentos e experiência profissional.
Descobrir e conhecer suas próprias aptidões (capacidade para fazer), atitudes (predisposição a fazer), habilidades (saber fazer) e competências (saber se fazer atuar alcançando objetivos determinados) faz a diferença a hora de destacar o profissional de turismo.
Competências Comportamentais são todas aquelas que possibilitam maior probabilidade de obtenção de sucesso na execução de determinadas atividades, podem ser inerentes às características de personalidade de um indivíduo, ou obtidas no convívio social, bem como podem ser obtidas e aprimoradas através de treinamentos e autodesenvolvimento. Subdividido essas competências em cinco grupos: Intelectuais, Comunicativas, Sociais, Comportamentais e Organizacionais, com conceitos, a saber:
INTELECTUAIS – São as competências necessárias para reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo de trabalho, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos.
DE COMUNICAÇÃO – São as competências utilizadas na forma de expressão e comunicação com seu grupo, superiores hierárquicos ou subordinados, clientes internos e externos, de cooperação de trabalho em equipe, de diálogo, de exercício da negociação e de comunicação.
COMPETÊNCIAS SOCIAIS – São as competências necessárias para atitudes e comportamentos necessários para transferi-lo conhecimentos da vida cotidiana para o ambiente de trabalho e vice-versa.
COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS – São as competências necessárias para demonstrar espírito empreendedor e capacidade para a inovação, iniciativa, criatividade, vontade de aprender, abertura às mudanças, consciência da qualidade e implicações éticas do seu trabalho.
COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS – São as competências necessárias para compreensão do negócio, seus objetivos, relações com o mercado, ambiente sócio político (conhecimento em negócio, planejamento, orientação para o cliente).
O profissional de turismo deve desenvolver com mais ênfase suas competências comportamentais, que envolvem habilidades práticas de relações e interações, como por exemplo: saber relacionar-se em diversos níveis; saber fazer-se representar em situações especiais; saber interagir em diferentes áreas; terá mais possibilidades neste mercado globalizado, ultra diversificado, super segmentado e, finalmente, muito competitivo.
Quando mobilizamos conhecimentos, valores e atitudes, agindo de modo pertinente na resolução de situações problemas, temos o que chamamos de competência.
Identifica-se a competência situando-a além dos conhecimentos adquiridos. Para tanto, é bom observar que, conforme Perrenoud (1999, p. 54).
a competência não se forma com a assimilação de conhecimentos suplementares, gerais ou locais, mas com a construção de um conjunto de disposições e esquemas que permitam mobilizar os conhecimentos na situação, no momento certo e com discernimento. Concebidas desta maneira, as competências são importantes metas da formação acadêmica. O domínio do ensino de competências pode responder a uma demanda social dirigida para a adaptação ao mercado e às mudanças e também pode fornecer os meios para aprender a realidade e não ficar indefeso nas relações sociais.
Paiva e Melo (2008) ressaltaram a importância do caráter social da construção e da manutenção da competência profissional que se contrapõe a uma formação pontual, estática ou descolada da realidade prática e da reflexão conceitual. Reforçam a necessidade de construção de um sistema profissional que concilie vários interesses.
Competência é a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação. Portanto, para constatá-la, há que considerar também os conhecimentos e valores que estão na pessoa e nem sempre podem ser observados. A competência só pode ser constituída na prática. Não é só o saber, mas o saber-fazer. Aprende-se fazendo, numa situação que requeira esse fazer determinado. 
Competências e habilidades pertencem à mesma família. A diferença entre elas é determinada pelo contexto. Uma habilidade, num determinado contexto, pode ser uma competência, por envolver outras subabilidades mais específicas. Por exemplo: a competência de resolução de problemas envolve diferentes habilidades — entre elas a de buscar e processar informação. Mas a habilidade de processar informações, em si, envolve habilidades mais específicas, como leitura de gráficos, cálculos etc. Logo, dependendo do contexto em que está sendo considerada, a competência pode ser uma habilidade. Ou vice-versa. As competências/habilidades são inseparáveis da ação, mas exigem domínio de conhecimentos.
O turista é considerado um cliente em potencial, deve se sentir único, passando a ter em mente que fechar um negócio com esse profissional de turismo é a melhor opção, o mais conveniente, prático e que mais o satisfará.
A competência manifesta-se quando ocorrem processos de transposição de conhecimentos e o indivíduo constrói respostas diante de novos desafios.
O setor de prestação de serviço vem crescendo de forma extraordinária e a cada dia novos serviços são oferecidos, a fim de levar mais sofisticação e comodidade para os clientes, atendendo aos mais diferentes públicos e aos conceitos mais exigentes. 
A satisfação do cliente é algo precioso para qualquer organização, pois pode indicar os serviços da empresa para outras pessoas e assim aumentar a clientela, enquanto um cliente insatisfeito pode acarretar vários prejuízos, não só pela perda desse cliente, mas também pelas perdas dos outros, pois o mesmo poderá transmitir as informações negativas. Satisfazer um cliente é oferecer-lhe benefícios e serviços que superam suas expectativas, estabelecendo um canal de comunicação entre ele e a empresa.
Simplesmente atender com cortesia já não é suficiente e deixou de ser um diferencial. Um atendimento de qualidade prima pela total satisfação do cliente e este deve ser surpreendido o tempo todo, tendo suas expectativas superadas por meio de benefícios que são acrescidos nos produtos ou serviços adquiridos, sempre visando o interesse individual de cada cliente. Não basta ser atencioso, deve-se perceber até onde ir com cada cliente, proporcionando exclusividade, reconhecimento, ou seja, um atendimento personalizado.
Cada profissional necessita desenvolver, aprimorar as suas HABILIDADES (o que sabe fazer) e COMPETÊNCIAS (realizar com a maior qualidade possível). As profissões estão mudando e as tradicionais estão sendo fortemente modificadas pelas tecnologias e interligando-se com outras atividades. Os profissionais devem desenvolver continuamente suas habilidades técnicas típicas, bem como suas atitudes comportamentais. Entretanto, estas cinco são imprescindíveis e necessitam caminhar juntas para o desenvolvimento da competência social do profissional de turismo. 
1) Saber atender aos clientes, com alto grau de excelência; mostre que você está à disposição caso o cliente precise de alguma coisa. Mostre-se sempre proativo frente ao cliente, antecipando suas solicitações. Identificar e atuar pro ativamente sobre problemas e oportunidades. A excelência no atendimento faz com que o cliente retorne a empresa.
2) Venda de forma eficaz e fidelize os clientes; Seja honesto e cumpra o que foi prometido. Algumas vezes é melhor dizer não do que simplesmente não cumprir depois. Gerando credibilidade e confiança.
3) Ser criativo, clientes gostam de ser surpreendidos, entretanto, a surpresa de hoje pode virar rotina de amanhã. Logo, é importante sempre pensar em novos meios de surpreender seus parceiros e reciclar o atendimento em busca de constante melhoria.
4) Faça o cliente se sentir importante. Ouça atentamente e tente resolver todos os problemas do cliente. O turista gosta de um atendimento exclusivo, diferenciado. Mesmo ocupado o cliente deve perceber o esforço em dar uma atenção especial a ele. Tente direcionar toda sua atenção ao cliente.
5) Trabalhar em equipe, gerenciando conflitos e interesses – Capacidade e discernimento para trabalhar com e por meio de pessoas, incluindo o conhecimento do processo da Motivação e a aplicação eficaz da liderança, com capacidade de influenciar o comportamento do grupo com empatia e equidade, visando os interesses interpessoais e institucionais. Tendo acima de tudo domínio das suas emoções.
Para sermos bem-sucedidos profissionalmente devemos dispor de inúmeras habilidades e competências. Quanto mais você exercita, mais competente você se torna.


Referências Bibliográficas
PAIVA, K.C.M. & MELO, M.C.O.L. Competências, Gestão de Competências e Profissões: Perspectivas de Pesquisa. RAC, Curitiba, v. 12, n. 2, Abr./Jun. 2008, pp. 339-368.

PERRENOUD, Phillipe. Construir Competências desde a Escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23º edição. 4 Reimpressão. São Paulo: Cortez 2007.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Gênero e identidade: Muito além da questão homem-mulher.

Toda vez que você vai preencher um questionário é comum aparecer o seguinte campo: sexo. A pergunta é: qual é o seu gênero? O mais comum é que existam duas alternativas para você assinalar: masculino ou feminino.
O conceito de gênero denota uma diferenciação. A lógica ocidental tradicional funciona como uma divisão binária, ou seja, que se divide em dois opostos: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x mulher.
Sob esse ponto de vista, o ser humano nasce dotado de determinadas características biológicas que o enquadra como um indivíduo do sexo masculino ou feminino. O sexo é definido biologicamente tomando como base a genitália, cromossomos sexuais e hormônios com os quais se nasce.
No entanto, o sexo não determina por si só, a identidade de gênero ou a orientação sexual de uma pessoa. A orientação sexual, por exemplo, diz respeito à atração que sentimos por outros indivíduos e, geralmente, envolve questões sentimentais, e não somente sexuais.
Embora a definição do que é ser “homem” ou “mulher” tenha surgido a partir de uma divisão biológica, a experiência humana nos mostra que um indivíduo pode ter outras identidades que refletem diferentes representações de gênero (como os transexuais e transgêneros) e que não se encaixam nas categorias padrões.
Em 2014, após reclamações de usuários que queriam mais opções em seus perfis, o Facebook passou a oferecer mais de 50 opções de termos para classificar gêneros. É possível ainda escolher por qual pronome você deseja ser chamado, “ele”, “ela” ou “neutro”.
A novidade já existe em países como EUA, Reino Unido e Argentina e incluem classificações como andrógino, transgênero, entre outros. Em entrevista ao jornal inglês The Independent, Simon Milner, diretor do Facebook no Reino Unido, afirmou que, com essas inclusões, “o Facebook está permitindo que as pessoas sejam elas mesmas e fazendo que os usuários se sintam confortáveis em expressar quem são”.
As identidades são características fundamentais da experiência humana, pois possibilita aos seres humanos a sua constituição como sujeitos no mundo social. O gênero refere-se à identidade com a qual uma pessoa se identifica ou se autodetermina; independe do sexo e está mais relacionado ao papel que o indivíduo tem na sociedade e como ele se reconhece. Assim, essa identidade seria um fenômeno social, e não biológico.
Uma pessoa cisgênera é aquela que tem sua identidade ou vivência de gênero compatível com o gênero ao qual foi atribuído ao nascer. Já uma pessoa transgênera é aquela que se identifica com o gênero diferente do registrado no seu nascimento. As pessoas trans podem preferir serem tratadas no feminino ou no masculino ou, ainda, não se encaixar em nenhuma dessas definições (trans não binárias).
Para muitos especialistas, esse encaixe em definições tradicionais começa logo na infância. Atentos a isso, uma pré-escola na Suécia, a Egalia, adotou um sistema chamado de “educação neutra de gênero”. Não se usam os termos “ele ou ela” ou “meninos” ou “meninas” para se referir aos alunos, chamados de “amiguinhos”. Brinquedos de cozinha, como panelinhas e outros, mais relacionados às meninas, estão lado a lado aos brinquedos de montar, mais ligados aos meninos. O objetivo é fazer com que as crianças cresçam livres de imposições e sem barreiras para fazerem suas escolhas. O método, claro, divide opiniões.
Outro tipo de pensamento binário seria a relação sexo-gênero ou identidade-sexualidade. Ou seja, a partir de um gênero haveria um determinado padrão de sexualidade. Se a pessoa nasce com uma vagina, teria que se relacionar com um homem e vice-versa (ou seja, ser heterossexual). No entanto, existem diversos comportamentos sexuais (homossexual e bissexual) que mostram que o gênero não define a orientação sexual de uma pessoa.
Existem muitas pessoas fora da classificação binária e, mais ainda, fora de classificações. Essas pessoas sofrem preconceito e são em muitos casos, “proibidas de existir”. A falta de compreensão da diversidade de gênero traz uma série de problemas e a criação de sentimentos negativos ou atitudes como a exclusão, culpa, medo e vergonha.
Além do sofrimento pessoal de “não se encaixar” na sociedade vigente devido ao preconceito, as pessoas transexuais ainda encontram dificuldades no mercado de trabalho e são vítimas frequentes de crimes de intolerância e violência.

7.1-Como o gênero funciona nas relações sociais?
A questão de gênero surgiu como importante reflexão para o feminismo. No fim dos anos 1940, a filósofa francesa Simone de Beauvoir afirmou que ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher. Ao afirmar isso, ela contesta o pensamento determinista do final do século 19 que usava a biologia para explicar a inferiorização do sexo feminino e as desigualdades sociais entre os gêneros. Para a filósofa, o “ser mulher” é uma construção social e cultural.
Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que chamamos de socialização de gênero, baseado nas expectativas que a cultura de uma sociedade tem em relação a cada sexo. Assim, ao nascer, uma pessoa deve ter uma determinada conduta e seguir normas e comportamentos “aceitáveis” de acordo com seu gênero.
Num passado recente, as mulheres não podiam estudar, votar ou trabalhar fora de casa. Deveriam exercer exclusivamente o papel da maternidade. Os homens também estão presos ao seu papel de masculinidade.
Hoje ainda vivemos padrões de papeis femininos e masculinos diariamente. Se um bebê nasce menino, ganha presentes associados à cor azul. Se menina, rosa. Carrinhos para meninos, bonecas para meninas. Se o gênero constrói uma identidade do feminino e do masculino, ele pode prender homens e mulheres em papeis rígidos.
Se voltarmos ao passado, poderemos observar que em outras culturas, como em tribos indígenas ou no antigo povo celta, as representações de masculino e feminino eram bem diferentes do que temos hoje. Em muitas sociedades, as mulheres eram guerreiras e participavam de esferas de decisão e poder (recentemente, foram encontrados vestígios de mulheres guerreiras vikings). Na África, há registros de que os franceses teriam lutado contra um exército de mulheres no Daomé (Benin), no século 18.
Em 2014, a Marvel anunciou que Thor, um dos seus personagens mais famosos, virá em versão mulher na próxima HQ. O personagem salvará uma mulher e herdará seus poderes. Pelo Twitter, o diretor-executivo da Marvel Digital, Ryan Penagos, esclareceu que ela realmente substituirá o atual deus do trovão. "Ela não é a Mulher-Thor, Lady Thor, ou Thorita. Ela é o THOR", escreveu ele.
No Brasil, o cartunista Laerte Coutinho surpreendeu ao aparecer vestido de mulher e assumir uma nova identidade de gênero – ou pós-gênero, como ele diz, já que ainda não consegue se enquadrar em outras opções. Em 2014, a cantora Conchita Wurst, personagem do austríaco Tom Neuwirth, superou obstáculos e venceu o Eurovision Song Contest, um show de talentos musicais na Europa. Sua aparência feminina misturada à barba masculina de Tom chocou o público, mas sua vitória refletiu, de certa forma, a aceitação da mistura de gêneros incorporada por Conchita.

7.3- Mas, e se eu não me identifico com meu corpo?
Assim como quase tudo que nos caracteriza, nosso gênero é construído pelas experiências que temos na vida, nosso desejo de quem queremos ser e em que cultura estamos. Por isso dizemos que o gênero (ser “mulher” ou ser ”homem”) é uma construção social e não uma genitália.
Em 1990, a filósofa estadunidense Judith Butler publicou o livro “Problemas de Gênero” (Civilização Brasileira, 2010). A obra cunhou a noção de gênero como performatividade. Para ela, o gênero é uma produção social, ou seja, é um ato intencional construído ao longo dos anos. De fora para dentro e de dentro para fora. Segundo ela, gênero não deve ser visto como um atributo fixo de uma pessoa, mas como uma variável fluída, apresentando diferentes configurações.
Butler acredita que é preciso tratar os papéis homem-mulher ou feminino-masculino não como categorias fixas, mas constantemente mutáveis, fora do padrão voltado para a reprodução. A filósofa busca desconstruir todo tipo de identidade de gênero que oprime as características pessoais de cada um. Ou seja, o ideal é que a pessoa escolhesse o gênero a que quer pertencer.
Ainda que a destruição do conceito de gênero seja uma questão nova ou distante para a maioria da sociedade, pensar sobre gênero também é pensar sobre liberdade e cidadania. Não existem certezas, mas questões sobre um humano mais plural.

No mundo atual onde pessoas se expressam de forma tão diversa e plural, o respeito à singularidade e a tolerância de cada individuo torna-se fator de extrema importância. Olhar para um mundo com mais respeito à diversidade dos gêneros é entender que o outro, independente de sua orientação é alguém que merece respeito e direitos políticos, sociais e econômicos.

Economia: aumento da dívida pública e baixo crescimento são entraves para 2015.

Quando o assunto é economia brasileira, as previsões para 2015 não soam animadoras. Para especialistas, o período é visto como um ano difícil. As previsões de arrocho fiscal e baixo crescimento contribuem para que o ano que mal começou seja classificado como “o ano perdido”.

E quais são os temas – ou tópicos --- importantes para entender melhor as previsões econômicas para 2015?
-Contas públicas
Hoje um dos grandes problemas do Brasil é o equilíbrio das contas públicas, ou seja, a diferença entre as receitas e as despesas do governo federal. São essas contas nacionais que oferecem indicadores da “saúde” da economia de modo geral.
E como esse equilíbrio é alcançado? O Estado arrecada dinheiro por meio da cobrança de impostos que incidem sobre a renda, a propriedade, serviços e produtos. Existe ainda a receita de dividendos oriundos de empresas públicas ou de alugueis do patrimônio público. Já as despesas incluem gastos com obras, previdência, educação, saúde, funcionários, pagamento da dívida pública, entre outros.

Quando o governo arrecada mais do que gasta, significa que houve superávit primário. Quando as despesas superam as receitas, ou seja, o governo gasta mais do que arrecada, temos um déficit primário.
Números recentes das contas públicas do Brasil mostram um país à beira de uma crise fiscal. Segundo dados do Tesouro Nacional, o ritmo de crescimento dos gastos do Estado é seis vezes maior que o das receitas.
Entre janeiro e novembro de 2014, o governo federal gastou R$ 933,1 bilhões. No mesmo período do ano anterior, o valor foi de R$ 827,7 bilhões. Ou seja, as despesas cresceram 12,72%, enquanto as receitas avançaram apenas 2,8% no mesmo período, passando de R$ 890,3 bilhões (2013) para R$ 914,7 bilhões.
A diferença entre as contas (receitas menos despesas, excluindo o pagamento da dívida pública) foi de R$ 18,3 bilhões, o pior resultado de janeiro a novembro desde 2001 (início da série histórica desse indicador).
Para especialistas esse resultado se deve ao aumento dos gastos do governo nas eleições, às concessões com desonerações de tributos e ao baixo crescimento da economia que derrubou a arrecadação.
Se por um lado os gastos do governo “injetam” mais dinheiro na economia, por outro, também influenciam na inflação. Um dos mecanismos usados para “frear” os gastos excessivos de prefeituras, governos estaduais e da União é a Lei de Responsabilidade Fiscal, sancionada em 2000.
A Lei estipula o limite máximo de 49% da receita corrente líquida (RCL) nos gastos com o funcionalismo público. Na prática, ela também ajuda a cumprir as metas de superávit, pois obriga o governo a economizar para pagar juros.
Quem estoura o limite máximo fica proibido de contrair financiamentos, de conseguir garantias de outras unidades da Federação para linhas de crédito e de obter transferências voluntárias.
Devido ao aumento dos gastos públicos, em dezembro de 2014, o Congresso aprovou um projeto de lei que poupa a gestão de ser responsabilizada por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal em 2015.

Contas externas
A situação das contas externas ou da balança comercial é pautada pela diferença entre importação e exportação (matérias-primas, produtos e transações de comércio, serviços e renda). O déficit ocorre quando existe diferença no balanço de pagamentos em transações correntes.
Em relação às contas externas, o Brasil está importando mais do que exportando. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2014 a importação superou a exportação em US$ 3,93 bilhões, sendo o primeiro saldo negativo anual desde 2000.
Segundo especialistas, o saldo negativo é devido à desvalorização do preço de commodities (as matérias-primas que o país exporta, como minério de ferro e soja), cenário internacional desfavorável (como a crise da Argentina) e ao baixo preço do petróleo.

Dívida pública
Quando falta dinheiro em caixa, o governo pode se endividar e pegar recursos emprestados de investidores para honrar compromissos. Em troca, compromete-se a devolver o dinheiro com alguma correção monetária. Para isso, ele costuma emitir títulos públicos que são vendidos no mercado financeiro.
A dívida bruta do Brasil saltou para 62% do PIB (produto interno bruto, ou seja, a soma de toda riqueza produzida pela sociedade). Em dez meses, o endividamento total aumentou 8,4 pontos percentuais, já que, em dezembro de 2013, a dívida representava 53,6% de todas as riquezas produzidas pelo país.
O dinheiro que “sobra” nas contas do governo depois de pagar as despesas (exceto juros da dívida pública) é chamado de superávit primário. É esse dinheiro que o governo usa como poupança para pagar os juros da dívida pública.
Manter as contas públicas em dia é crucial para o mercado financeiro internacional. Quanto menor a dívida em relação ao PIB, mais o país mostra que é um “bom pagador”. Quanto maior a capacidade de pagamento do Brasil, menor é o risco de crédito e as chances de conseguir taxas de juros mais baixas em empréstimos. 
A dívida ainda pode aumentar se a cotação do dólar subir. Quanto mais os encargos da dívida crescerem, pior ficará a situação fiscal.

Juros e inflação
O gasto público também pressiona a alta dos preços em geral. Com a inflação mais alta, o governo também sobe a taxa básica de juros (Selic). A alta dos juros pelo Banco Central é uma forma de conter o consumo das famílias e frear a oferta de crédito pelos bancos.
Apesar disso, os juros altos deixam famílias endividadas em alerta e “travam” financiamentos do setor produtivo, o que freia os investimentos que o país precisa para voltar a crescer.

Austeridade
Numa situação de crise ou recessão, austeridade é o caminho escolhido por muitos governantes. Durante a crise econômica de 2008, a palavra foi muito ouvida nos discursos dos novos ministros europeus que realizaram reformas em meio a déficits, desemprego, calotes em dívidas, entre outras situações. A austeridade nada mais é do que controlar rigidamente os gastos públicos.
E para reequilibrar as finanças públicas, a saída que os governos encontram é cortar gastos ou aumentar receitas (ou as duas coisas ao mesmo tempo). Para ter mais dinheiro, ele pode aumentar impostos ou contar com o crescimento da economia do país.
A carga tributária brasileira já é considerada alta. Hoje, quase 36% do PIB são destinados ao pagamento de impostos, que também podem vir embutidos no preço de bens, produtos e serviços (como luz, água, carro, gasolina, transporte, imóveis etc). 
Quando a economia cresce pouco, o resultado é uma arrecadação de impostos menor do que o esperado. Quando a economia cresce muito, as receitas avançam no mesmo ritmo, impulsionadas pela exportação ou consumo interno.
O problema é que em 2014, a economia do Brasil cresceu cerca de 1%. Além do crescimento do PIB abaixo do previsto no último ano, o emprego deu sinais de desgaste, a inflação (em torno de 6,5%) e juros registraram altas significativas e os brasileiros nunca estiveram tão endividados.
Levantamento feito pelo Banco Central mostra que 45,88% da renda anual acumulada pelas famílias brasileiras é para o pagamento de dívidas, quase o dobro do registrado em 2005 (21,47%).
O novo ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, disse que fará um ajuste fiscal e pretende cumprir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB para 2015. Como sem crescimento será difícil cumprir essa meta, a tendência é que haja um maior rigor fiscal nas contas públicas.

2015, ano perdido também em outros países?
Na Rússia, a palavra presente em todas as previsões é “recessão”. O motivo são as sanções econômicas impostas pelos países ocidentais e a queda no preço do petróleo, que também deve abalar economias como a do Equador e Venezuela. Estados Unidos e Reino Unido devem manter um crescimento estável, já que estão mais recuperados da crise de 2008.
Com o Japão em recessão e prevendo um crescimento de 1% em 2015, a China estabeleceu-se como a segunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, o país asiático mudou seu modelo de crescimento, antes voltado exclusivamente para as exportações. Hoje, ele já apresenta um melhor equilíbrio das vendas externas e o consumo interno. Mas a previsão é de que a China tenha um crescimento sustentável neste ano.
Na Europa, os países da União Europeia (UE) tentam manter o bloco unido. Se em 2014 a zona do euro conseguiu evitar a recessão, para 2015 a expectativa é crescer apenas 1,1% e evitar a deflação (quando a população para de consumir à espera de preços mais baixos, levando à quebra de empresas e ao desemprego).
No entanto, para esses países, a instabilidade política também influencia a economia. Em janeiro, as eleições antecipadas na Grécia vão definir se o país seguirá ou não no bloco.
Mas é importante lembrar que a difícil situação econômica que muitos países vão enfrentar em 2015 não significa que viveremos um novo momento de crise econômica em grande escala.
A última grande crise mundial aconteceu em 2008, com o colapso do sistema financeiro norte-americano. Foi considerada a pior crise do capitalismo desde a Grande Depressão, em 1929. Antes, nas décadas de 1970 e 1980, o preço elevado do petróleo produziu crises globais. A última vez que o Brasil entrou em recessão foi em 2009, quando o país tentava driblar os efeitos da crise financeira mundial.

DIRETO AO PONTO
2015 será um ano difícil para a economia, segundo especialistas. As previsões de arrocho fiscal e baixo crescimento para o Brasil contribuem para que o ano já seja classificado como “o ano perdido”.
No resto do mundo, embora os EUA retomem seu crescimento, outros países terão pela frente um período de recessão, como a Rússia, e de crescimento abaixo do esperado, como China, Japão e economias latino-americanas.
No entanto, isto não significa dizer que teremos em 2015 um ano de crise mundial. Para entender o que vem pela frente, é fundamental compreender temas como equilíbrio nas contas públicas, austeridade, juros e inflação e o papel da dívida pública na organização das finanças do governo.

Sociedade: as mudanças no ato de comer e como vamos garantir comida para todos.

A comida sempre teve um papel importante nas sociedades. Além de ser uma atividade fundamental, o ato de comer em grupo, por exemplo, é um dos que define o homem como um ser cultural e participativo em um contexto social. Os alimentos que escolhemos e a forma como consumimos também nos dizem muito sobre identidades, costumes e características sociais e culturais de um grupo.
Não à toa, alguns momentos importantes da história da civilização ocidental estão relacionados à alimentação -- como as grandes navegações --, que aparece também em muitas histórias religiosas, como a multiplicação dos pães e a ceia no cristianismo.

Mas qual é a nossa relação com a comida hoje? 
Da pré-história à sociedade pós-moderna, o ato de comer passou por significativas mudanças. A chegada de novas tecnologias para facilitar a fabricação, a produção, o transporte e a conservação de alimentos provocou uma revolução na alimentação, principalmente nos hábitos familiares, como as refeições partilhadas.
Por outro lado, todo esse avanço não foi capaz de acabar com a fome e a subnutrição no mundo. Segundo o órgão da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO), embora tenha ocorrido uma redução, mais de 800 milhões de pessoas, ou uma em cada oito no mundo, ainda passam fome por não receber o alimento ou a quantidade de alimento adequada.
As mudanças na produção e no ato de comer refletem o ritmo agitado imposto pelo estilo de vida moderno, em que as pessoas passam muito tempo no trabalho, enquanto o tempo para as refeições acaba servindo para várias atividades.
Para atender a essa realidade, começam a surgir alternativas na indústria de alimentos: congelados, pré-cozidos e o fast-food. Por outro lado, foram essas mudanças que ajudaram a acabar com a escassez de comida, permitindo, entre outros, o surgimento de grandes centros urbanos e a sobrevivência da raça humana.
Mas não foi apenas o processo que mudou. O que comemos também. O homem pré-histórico era onívoro, ou seja, comia de tudo. O homem moderno aderiu a uma alimentação que tem como base gorduras animais, carne, carboidratos e açúcar. Esse sistema alimentar tem forte impacto social e ambiental, pois demanda uma produção agrícola voltada para a forragem animal, do qual a soja é um exemplo.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, do IBGE, o brasileiro come pouca quantidade de hortaliças e frutas, ingere mais alimentos gordurosos do que o recomendado, troca cada vez mais refeições completas por lanches rápidos e é sedentário. A pesquisa apontou ainda que pessoas de baixa renda compram alimentos pouco saudáveis, ou seja, além de fatores como saúde, religião, meio ambiente, a questão social ainda é um limitador do consumo de alimentos, principalmente daqueles considerados mais nutritivos, que costumam ser mais caros.
Esse estilo de vida, que não é característico apenas do brasileiro e pode ser observado em boa parte do mundo, fez com que o número de problemas de saúde decorrentes da má alimentação ou do consumo em excesso de produtos industrializados aumentasse, tal como a obesidade e problemas cardíacos.
Mesmo nesse cenário houve um aumento considerável de consumidores que valorizam a comida natural, orgânica, segundo um relatório recente da empresa de pesquisas Nielsen. A pesquisa aponta um aumento de 5% nas vendas de itens considerados saudáveis, como frutas, verduras, chás, iogurtes, água, entre os anos de 2012 e 2014. Considerando apenas a América Latina, esse número chega a 16%.
De olho neste mercado, muitas empresas já prometeram retirar corantes e aromatizantes artificiais de diversos produtos, buscando atender as demandas do consumidor. Mas trata-se de um movimento que ainda precisa ganhar força para atingir uma maior parcela de consumidores, que possa ser beneficiada e ter acesso a tais alimentos.
Dentro desse contexto, a preocupação com a procedência da comida passou a fazer parte da rotina desses consumidores que, além de produtos naturais, buscam comprar marcas e fabricantes que não agridem o meio ambiente nem os animais (como as granjas, onde a forma como as galinhas são criadas varia) para a produção de alimentos.
A onda mais recente do mercado de alimentação é a onda de “gourmetização” da comida, onde se vende a ideia de que você estará consumindo um alimento com algum toque mais refinado. Da coxinha, o pastel, o sanduíche ao feijão com arroz, tudo pode ser “gourmet”.
Esse refinamento, no entanto, nem sempre recupera o lado mais humano das refeições. Muitas vezes, a sofisticação acaba apenas reproduzindo essa dinâmica consumista num tom elitista, que mais uma vez direciona um determinado produto a um tipo de classe social ou perfil.
Entre todas essas questões, a que parece precisar de uma resposta mais urgente sobre alimentação é: com a previsão de que em 2020 a população mundial seja de 9 bilhões de pessoas, teremos comida para todo mundo?

As opções não podem ficar reduzidas apenas à produção industrial ou orgânica e local, embora elas certamente venham a oferecer novas soluções. O alto consumo de animais vai tornar o meio tradicional escasso, assim como os efeitos ambientais da agricultura podem custar muito caro à humanidade, seja pela sua relação como aquecimento global ou perda da biodiversidade.
Usar recursos naturais de forma eficiente, aumentar a produção para nutrição humana (isso porque parte da produção vira ração para animais, é usada nos biocombustíveis e pela indústria), consumir de forma responsável e valorizar o alimento estão entre os passos necessários para garantir que ao longo dos próximos anos, a comida chegue a um número maior de pessoas, em vez de terminar desperdiça na lata de lixo.

A comida sempre teve um papel importante nas sociedades. Além de ser uma atividade fundamental, o ato de comer em grupo, por exemplo, é um dos que define o homem como um ser cultural e participativo em um contexto social. Os alimentos que escolhemos e a forma como os consumimos também nos dizem muito sobre identidades, costumes e características sociais e culturais de um grupo.
Com a chegada de novas tecnologias que vieram para facilitar a fabricação, a produção, o transporte e a conservação de alimentos, houve uma revolução na alimentação, principalmente nos hábitos familiares, como as refeições partilhadas e a forma como consumimos alimentos hoje.
As mudanças na produção e no ato de comer refletem o ritmo agitado imposto pelo estilo de vida moderno, em que as pessoas passam muito tempo no trabalho e no transporte, e tem cada vez menos tempo para alimentação e lazer.
O que mudou no nosso ato de comer e, pensando num futuro onde a população mundial deve chegar a 9 bilhões de pessoas, como vamos garantir comida para todos?

Aposentadoria: No Brasil, previdência é um desafio para o futuro.

você imagina a sua renda no futuro? De 2009 para cá, o envelhecimento da população é uma tendência em muitos países e seu reflexo pode ser observado no consumo, mercado de trabalho, organização familiar e nos gastos do governo com saúde e previdência social.
Cada país pode ter o seu modelo próprio de previdência. No geral, o objetivo é o mesmo: garantir recursos financeiros à população mais velha ou que precisa de assistência e proteção quando esta se afasta do mercado de trabalho por diferentes motivos -- doença, invalidez ou idade avançada.
No Brasil a Previdência Social é um direito social assegurado na Constituição ao trabalhador registrado (há a opção privada, para qualquer indivíduo, em qualquer idade). A principal fonte de recursos para pagar as despesas da aposentadoria pública é a cobrança de um tributo em folha de pagamento.
Para manter o sistema em equilíbrio, o país precisa ter um número maior de pessoas no mercado de trabalho em relação ao número de beneficiados na previdência. Outra forma de equilibrar o sistema é alocar recursos para a previdência oriundos de outras fontes de arrecadação do governo.
Chama-se de déficit previdenciário o resultado negativo do cálculo a partir da diferença entre a arrecadação dessas contribuições e as despesas com os benefícios.

4.1- Fatores que ocasionam déficits previdenciário no Brasil
Nos últimos anos, o Brasil acumula sucessivos déficits devido a um possível conjunto de fatores: a deterioração dos postos de trabalho, o emprego informal (sem carteira assinada), a má gestão dos recursos e o envelhecimento da população.
Em relação ao fator demografia, quanto maior é a expectativa de vida de uma população, maior é o gasto do governo com a aposentadoria dos trabalhadores. Uma pesquisa da ONU sobre Envelhecimento no Século 21 apontou que, entre os idosos, a segurança financeira representa a maior preocupação.
Nas últimas décadas, o Brasil viu sua população idosa aumentar em um ritmo mais rápido do que o previsto (devido à queda da fecundidade e ao aumento da expectativa de vida do brasileiro, que subiu para 74, 9 anos, segundo dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Assegurar o bem-estar da população mais velha e equilibrar as contas da seguridade social é hoje um desafio para o futuro do país.
Atualmente o governo brasileiro alega que o sistema previdenciário não seria sustentável ao longo dos próximos anos. Para conter as despesas, o governo propôs endurecer as regras de acesso aos benefícios da previdência.

4.2- Mudança no sistema previdenciário brasileiro
Em junho de 2015, o Congresso aprovou o mecanismo 85/95, que prevê mudanças no cálculo da aposentadoria. Com a nova regra, a soma da idade + o tempo de contribuição deve ser de 85 anos para mulheres e 95 anos para homens. A partir de 2017, o mecanismo será gradativamente acrescido em 1 ponto até 2022. Assim, em 2017 as idades passam para 86/96, em 2019 para 87/97, em 2020 para 88/98, até chegar em 90/100 em 2022.
A mudança gradativa foi uma decisão da presidente Dilma frente à proposta inicial aprovada no Congresso. O argumento foi que com o aumento da expectativa de vida, os gastos com aposentadoria dos idosos seriam acrescidos, elevando as despesas públicas e provocando um déficit previdenciário.
Hoje, a previdência consome 22,7% da despesa total do governo brasileiro. Uma pesquisa internacional apontou que os gastos previdenciários equivalem a 11% do PIB no Brasil e a 6% do PIB nos EUA, sendo que a proporção da população norte-americana acima dos 60 anos (16% da população total) é o dobro da brasileira (8% da população total).
Para especialistas, a valorização do salário mínimo -- que corrige os benefícios --, a aposentadoria precoce e o excesso de pensões são fatores que ajudam a elevar os gastos do governo com a previdência.
Por isso, equilibrar as contas públicas é um dos pontos centrais da mudança já que o Brasil viverá uma transição demográfica a partir de 2030, quando a previsão do IBGE indica que a população brasileira vai atingir seu pico e terá o maior número de pessoas trabalhando. A população jovem, entre 15 e 29 anos, deve cair muito a partir desta data.
Essa mudança de perfil na população torna urgente a discussão sobre o modelo de aposentadoria, já que os idosos de amanhã estão no mercado de trabalho hoje, e o governo precisa preparar seu orçamento para não ter o mesmo problema que países europeus, por exemplo.
A crise econômica da Europa não foi motivada por questões previdenciárias, mas esse item na despesa teve um peso considerável num cenário de alto endividamento público. Com um perfil de população mais velha -- visto como avanço e sinônimo de qualidade de vida -- os gastos sociais tornaram-se insustentáveis com a estagnação das economias desde 2009.
Um exemplo é a Grécia, ao lado da Itália, o país que mais gasta com previdência. Lá a renda em metade dos lares vem da aposentadoria e 45% dos aposentados vivem sob a linha da pobreza. Em meio à crise, a redução no valor pago às pensões, como exigem alguns, poderia reduzir os gastos, mas levaria a um aumento da população pobre e traria outros problemas ao país.
Toda essa discussão passa por garantir um bom envelhecimento e estabilidade aos mais velhos. Embora para uns a imagem de uma população mais idosa caracterize um país como frágil e incapaz, mudanças de comportamentos e novas tecnologias sugerem que não é bem assim.
Muitas pessoas preferem trabalhar mais que o tempo previsto, por exemplo, mesmo numa idade avançada. Muitos iniciam uma nova atividade para não ficarem parados. E será que gerações futuras vão desejar trabalhar mais tempo? Se sim, isso aumentaria o tempo de arrecadação do governo e a produtividade do país.
Ao longo da história, as mudanças demográficas criaram desafios importantes para as sociedades. Muitos países fizeram reformas, se adaptaram a novos cenários. Até 2030 o Brasil tem um curto tempo para definir como vai tratar a sua melhor idade.

BIBLIOGRAFIA
Artigo Previdência do trabalhador: uma trajetória inesperada, de Mariana Batich. 2004. Disponível online
O direito à velhice: Os aposentados e a previdência social, de Eneida Gonçalves de M. Haddad (Cortez; 2000)

ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente completa 25 anos

A violência contra a criança e o adolescente sempre esteve presente na sociedade e em diferentes classes sociais. No Brasil, um avanço importante para reconhecer crianças e adolescentes como cidadãos com direitos e deveres foi a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado pela Lei 8.069, e que em julho de 2015 completa 25 anos.
O ECA representa um marco jurídico que instaurou a proteção integral e uma carta de direitos fundamentais à infância e à juventude. Ele considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.

3.1- A lei estabelece: "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária".
Ao todo, o estatuto tem 267 artigos que abordam diversos temas como o acesso a saúde e educação, proteção contra a violência e tipificação de crimes contra a criança, proteção contra o trabalho infantil, regras da guarda, tutela e adoção, proibição do acesso a bebidas alcóolicas, autorização para viajar, entre outras questões.

3.2- A criação da lei
Antes de 1988, o Brasil contava com o Código de Menores, documento legal para a população menor de 18 anos e que visava especialmente à questão de menores em “situação irregular”, de vulnerabilidade social. A visão tradicional da época era de que crianças e adolescentes eram incapazes e consideradas um problema para o Estado e autoridades judiciárias.
O ECA foi criado pouco depois da promulgação da nova Carta Magna, a Constituição Federal de 1988, também conhecida como “Constituição Cidadã”, por prever novos direitos fundamentais aos brasileiros.
A lei regulamenta o artigo 227 da Constituição, que garante os direitos das crianças e dos adolescentes: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Em 1989 houve a Convenção sobre os Direitos da Criança pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ocasião em que foram discutidos compromissos internacionais que abriram caminho para as discussões do ECA no ano de 1990. O Brasil, então, tornou-se o primeiro país a adequar a legislação interna aos princípios consagrados pela Convenção. Ao longo dos anos, o Estatuto teve alterações introduzidas em eu texto, como por exemplo, a Lei de Adoção (2009), que acelera o processo de adoção e cria mecanismos para evitar que crianças e adolescentes fiquem mais de dois anos em abrigos.
Hoje o Estatuto é considerado um dos melhores do mundo, uma referência internacional em legislação para essa faixa etária e inspirou legislações semelhantes em vários países. Apesar disso, ainda hoje suas leis são desconhecidas pela maioria da população brasileira e em muitos municípios sua aplicação prática é descumprida.
Apesar de o ECA ter transformado a relação da sociedade com a questão dos direitos de crianças e adolescentes, ele ainda é ineficaz em diversos aspectos. Há muito que avançar nos direitos fundamentais assegurando a meninos e meninas uma educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação, convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, liberdade, dignidade e respeito.

3.3- Mudanças que a lei trouxe
Antes de o ECA ser promulgado, o Estado entendia que não havia diferença entre criança e adolescente. Também era comum ver crianças trabalhando ao invés de estudarem ou brincarem. O ECA contribuiu para que muitas mudanças acontecessem:

3.3.1-Reconhecimento de direitos: garantir que as crianças e adolescentes brasileiros, até então reconhecidos como meros objetos de intervenção da família e do Estado, passem a ser levados a sério e tratados como sujeitos autônomos. Hoje as crianças são vistas como cidadãos em desenvolvimento e que precisam de proteção.
3.3.2-Ensino: todo jovem tem direito a escola gratuita. E os pais são obrigados a matricular os filhos na escola.
3.3.3-Lazer: toda criança tem o direito de brincar, praticar esportes e se divertir
3.3.4-Saúde: crianças e adolescentes têm prioridade no recebimento de socorro médico, devem ser vacinados gratuitamente.
3.3.5-Políticas públicas de atendimento à infância e juventude: estabeleceu uma maior participação da sociedade civil, poderes públicos e dos municípios em ações de proteção e assistência social.
3.3.6-Proteção contra a violência: reconheceu a proteção contra a discriminação, violência, abuso sexual e proibição de castigos imoderados e cruéis.
3.3.7-Proibição do trabalho infantil: determinação da proibição de trabalho infantil e proteção ao trabalho do adolescente. A única exceção é dada aos aprendizes, que podem trabalhar a partir dos 14 anos com carga horária reduzida.
3.3.8-Conselho Tutelar: para cumprir e fiscalizar os direitos previstos pelo ECA, foi criado o Conselho Tutelar, órgão municipal formado por membros da sociedade civil. Atualmente 98% dos municípios contam com o apoio de conselheiros.
3.3.9-Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente: foram criados os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, que existem nas esferas municipal, estadual e nacional e têm como atribuição o monitoramento e a proposição de políticas públicas.
3.3.9-Novas regras para o adolescente infrator: foram definidas medidas socioeducativas para infratores entre 12 e 18 anos que precisam cumprir pena em unidades que visam à reeducação e a reintegração do jovem.

3.4- A polêmica da redução da maioridade penal
Um dos pontos mais criticados do ECA é a questão de como tratar o ato infracional praticado por menores. A maioridade penal é a idade mínima para uma pessoa ser julgada como adulto. No Brasil, essa idade é 18 anos. Se menores cometerem atos ilegais, a legislação que julga e decide a punição é o Estatuto, que possui artigos que se dedicam ao ato infracional.
A lei prevê que a menor idade de responsabilidade criminal é 12 anos. Entre 12 e 18 anos, estes jovens infratores devem ser atendidos por um sistema de justiça juvenil e com medidas socioeducativas que podem incluir internação em instituição para adolescentes. A pena máxima é de três anos.
Há quem considere a lei branda demais para punir adolescentes que comentem crimes ou infrações. Isso vem motivando um debate acalorado sobre a questão da redução da maioridade penal.
Em março de 2015, a Câmara dos Deputados retomou a discussão da PEC 171, projeto que propõe baixar de 18 para 16 anos a idade mínima para, em casos de crimes violentos, uma pessoa ser julgada pela Justiça Comum. O projeto ainda está em tramitação.
Defensores do ECA afirmam que o crime deve ser punido, mas é preciso considerar as diferenças no desenvolvimento físico e psicológico nos adolescentes em relação aos adultos. Para críticos, o Estado não é eficaz em recuperar o menor, e o ECA seria um instrumento que garantiria a impunidade em relação aos adolescentes em conflito com a lei.

Bibliografia
Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível online

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 9ª, Vários autores (DP&A, 2009)

Direitos Da Criança: Era Uma Vez..., A. Reis Monteiro (Almedina, 2010)


Migrações no Brasil

Migrações Externas
A imigração no Brasil pode ser dividida em três períodos principais
1) O primeiro período (de 1808 a 1850) foi marcado pela chegada da família real, em 1808, o que ocasionou a vinda dos primeiros casais de imigrantes açorianos para serem proprietários de terras no país. Devido ao receio do europeu de fixar-se num país de economia colonial e escravocrata, nesse período houve uma imigração muito pequena.
2) O segundo período (de 1850 a 1930) foi marcado pela proibição do tráfico de escravos. Foi à época mais importante para a nossa imigração, devido ao grande crescimento da atividade monocultora (café) e aos incentivos governamentais dados ao imigrante. Em 1888, com a abolição da escravidão, estimulou-se ainda mais o fluxo imigratório, tendo o Brasil recebido, nessa época, praticamente 80% dos imigrantes entrados no país.
3) O terceiro período (de 1930 até os dias de hoje) é caracterizado por uma sensível redução na imigração, devido, inicialmente, à crise econômica de 1929, ocasionada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, com o consequente abalo da cafeicultura brasileira. Além disso, contribuiu também a crise política interna no país, decorrente da Revolução de 1930, e a criação de uma lei sobre imigração, através da Constituição de 1934. Essa lei restringia a entrada de imigrantes, estipulando que, anualmente não poderia entrar no país mais que 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade entrados nos últimos 50 anos. Determinava ainda que 80% dos imigrantes deveriam dedicar-se à agricultura.

PRINCIPAIS GRUPOS DE IMIGRANTES:
a) Os PORTUGUESES representam o maior contingente de imigrantes entrados no Brasil. Calcula-se que devam viver atualmente, no país, 213.203 portugueses, concentrados nos grandes centros urbanos, com destaque especial para o Rio de Janeiro e São Paulo.
b) Os primeiros ITALIANOS chegaram ao Brasil em 1875, estabelecendo-se no Rio Grande do Sul, na região serrana e também em Santa Catarina, onde o clima era mais ameno, assemelhando-se um pouco com as regiões de onde vieram. Logo após essa época, São Paulo tornou-se o maior polo receptor de italianos, que inicialmente se encaminharam para as zonas cafeicultoras do interior. Em pouco tempo, entretanto, acabaram por migrar para a capital, vindo a se constituir em importante mão-de-obra para a indústria que então se iniciava. Os italianos deixaram suas marcas em cidades e bairros, influenciando hábitos alimentares e linguísticos das regiões onde se estabeleceram.
c) As primeiras levas de imigrantes ALEMÃES chegaram em 1824 e, desde então, deram preferência à região Sul do Brasil, onde fundaram a colônia de São Leopoldo (RS). A partir de 1850, foram se instalando em Santa Catarina, sobretudo no vale do Itajaí, onde surgiram Brusque, Joinville e Blumenau, cidades de marcantes características alemãs. Atualmente, a cidade de São Paulo e, sobretudo em Santo Amaro, e os três estados sulinos abrigam quase a totalidade dos imigrantes alemães e seus descendentes brasileiros.
d) A imigração JAPONESA teve início em 1908, quando aportou no Brasil o navio Kasato Maru, com 165 famílias a bordo. Estabeleceram-se inicialmente em São Paulo e depois no Pará, onde se desenvolve importante núcleo produtor de pimenta-do-reino. Na cidade de São Paulo, foram se concentrando no bairro da Liberdade, que adquiriu características de sua cultura, perceptíveis principalmente nas ruas e cartazes. 

Emigrações de brasileiros
De acordo com estimativas divulgadas em 2011 pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), em 2010, cerca de 3,1 milhões de brasileiros viviam fora do país. Apesar de grande parte desses emigrantes terem formação profissional, na maioria das vezes exercem tarefas de baixa qualificação nos países onde residem.
O Brasil, hoje em dia é um país de emigração. Os primeiros movimentos de saída de grande proporção foram registrados na década de 1970, com a emigração, para o Paraguai, de sulistas que venderam as suas terras ou perderam os seus empregos. Hoje em dia esse emigrantes, que são conhecidos como "brasiguaios", representam cerca de 5% da população desse país.
A partir de 1980, milhares de brasileiros de ascendência japonesa foram atraídos por ofertas de trabalho no Japão. Muitos tinham formação superior e foram pro Japão pra exercer serviços de baixa remuneração e de baixa qualificação para o padrão japonês. Esses são conhecidos como "dekasseguis". Antes do governo japonês tomar a iniciativa da mão-de-obra de descendentes japoneses, cerca de 2 mil brasileiros viviam no Japão. Hoje em dia, são mais de 200 mil.
Nos Estados Unidos, o emigrante brasileiro é chamado de "brazuca". A maioria trabalha em serviços de baixa remuneração. São babás, faxineiros, engraxates, balconistas e etc.
Alemanha, Portugal e Itália abrigam, juntos, cerca de 150 mil brasileiros. Nesses três países vivem 60% dos emigrantes brasileiros que estão na Europa.

As migrações internas
No período colonial, as migrações internas acompanharam os sucessivos ciclos de desenvolvimento da economia regional, relacionados à agricultura de exportação, à criação bovina ou à extração mineral. A cana-de-açúcar, por exemplo, estimulou o desenvolvimento do Nordeste no início da colonização; a criação de gado contribuiu para a ocupação do Sul do país e de áreas mais afastadas do litoral; e a mineração atraiu migrantes para Minas Gerais e a região central do Brasil.
As migrações internas também foram influenciadas pelo curto ciclo da borracha, na Amazônia (1870-1912); pelo cultivo do café - que marcou a economia brasileira entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX - e pelo crescimento industrial, no Sudeste (especialmente no estado de São Paulo), que se intensificou a partir da Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1970, devido à expansão da atividade agrícola no Centro-Oeste e à política de ocupação da Amazônia, essas regiões transformaram-se em novos polos de atração populacional.
A partir da década de 1930, os deslocamentos internos da população brasileira tornaram-se mais expressivos, promovendo uma ampla redistribuição de pessoas pelas regiões. A Lei de Cotas, que restringiu a entrada de estrangeiros, a industrialização e o desenvolvimento urbano da atual região Sudeste marcaram a estruturação de um intenso fluxo interno da população em direção a essa região, principalmente do Nordeste do país.
Após a década de 1950, milhões de nordestinos migraram preferencialmente para o eixo Rio-São Paulo. Secas prolongadas, alto índice de pobreza e miséria, falta de emprego e más condições de vida, associados ao grande desenvolvimento desses estados, eram os principais fatores que motivaram esse fluxo de migrantes.
Em busca de trabalho e melhores condições de vida, essa mão de obra barata foi absorvida por diversos setores (metalurgia, indústria de peças e automóveis, construção civil, empregos domésticos) e desempenhou papel importante no crescimento econômico e na urbanização da região Sudeste.
Essa migração da atual região Nordeste para o Sudeste (inter-regional) foi acompanhada da migração do campo para a cidade. Foi justamente na década de 1960 que a população urbana superou a população rural no Brasil. As dificuldades de manutenção da agricultura de subsistência e a concentração fundiária são alguns dos fatores que explicam a aceleração dos movimentos populacionais em direção às cidades. Outros aspectos que explicam os fluxos migratórios do campo para a cidade são a mecanização do campo, o desenvolvimento urbano-industrial, a maior facilidade de acesso aos serviços sociais nas cidades e as maiores oportunidades de emprego e de melhoria das condições de vida nas cidades.
Atualmente, as atividades econômicas tornaram-se mais diversificadas em todas as regiões. Além disso, a "guerra fiscal" travada entre os estados, que lançam mão de isenções de impostos para atrair empresas, leva a uma relativa desconcentração industrial. Esse processo tem alterado a dinâmica do fluxo populacional, caracterizado pelo crescimento das cidades médias em um ritmo superior ao das metrópoles do Sudeste.
Com relação à migração entre as regiões, o censo de 2010 (IBGE), registrou poucas alterações em comparação com a pesquisa realizada em 2000. O Sudeste ainda continua como o principal destino dos movimentos migratórios, particularmente o estado de São Paulo, cuja atividade agrícola desponta atualmente como um fator de atração muito importante. Porém, essa região vem diminuindo o seu crescimento populacional, sendo a segunda região que teve o menor crescimento na última década. O Centro-Oeste, em razão da ampliação das fronteiras agrícolas e por sediar o Distrito Federal, é a segunda região que mais atrai imigrantes no Brasil e é também a que teve o segundo maior crescimento populacional do Brasil.
O Nordeste permanece como o principal polo de emigração, constituindo a única região que registrou o volume de saída da população superior ao de entrada. No entanto, sobretudo a partir dos anos 1990, é marcante o fluxo de pessoas para a região. Em sua maioria, referem-se a nordestinos que, devido às dificuldades encontradas no Sudeste, retornam ao seu local de origem. Outra tendência que vem se verificando nos fluxos migratórios internos é o deslocamento de pessoas das grandes para as médias cidades. A região Sul praticamente manteve equilibrado o fluxo de entradas e saídas de população. No censo do IBGE 2010, constatou-se, também, que a região Norte é a região do país que teve o maior crescimento populacional.
As maiores entradas anuais de imigrantes ocorreram no período que se estende de 1988 até 1914 -1918, anos da Primeira Guerra Mundial. O total de imigrantes que entraram no Brasil de 1850 até 2000 foi superior a 5 milhões; aproximadamente 3 milhões fixaram-se aqui e os 2 milhões restantes deixaram o país.
A imigração foi muito forte no período de 1850 até 1934, mas hoje em dia ela se tornou muito menor, menor até que a emigração. As migrações internas ocorreram durante toda a nossa história, mas assumiram maior importância após 1934, com o declínio da imigração e uma maior integração entre as diversas regiões do país. As migrações nas grandes cidades vêm aumentando muito desde a década de 1950, acompanhando o aumento da urbanização.
O centro-sul esta emitindo mais imigrantes, e o centro-oeste e a Amazônia estão recebendo.

Migração nordestina e êxodo rural
As migrações internas também sempre foram muito intensas, como por exemplo, a de habitantes do Nordeste que migraram em massa para o Centro-Sul do Brasil com o declínio da cana de açúcar e o desenvolvimento da mineração, ou a de nordestinos que migraram para a Amazônia no chamado “boom da borracha" no final do século XIX.
Com a industrialização nas décadas de 60 e 70, passamos a viver de forma mais intensa migrações internas no território nacional, como a de nordestinos em direção das grandes metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo, e o intenso êxodo rural, que fez o Brasil se tornar um país predominantemente urbano em um espaço de menos de 30 anos. Na década de 70 os fluxos migratórios se direcionaram para a Amazônia, fruto da política de ocupação do território nacional imposta pelos militares, chamada "integrar para não entregar".
Atualmente, as antigas metrópoles industriais não são mais os locais preferidos por migrantes, por conta do processo de desconcentração industrial, novas áreas do país passam a ser polo de atração desses cidadãos, como o interior de S. Paulo, do Paraná, etc. As migrações continuam a ser muito comuns no Brasil, tanto do campo para a cidade, assim como as urbano-urbano. São comuns também nas grandes metrópoles brasileiras, as migrações pendulares, assim como a migração sazonal em regiões como o Nordeste.
Êxodo Rural: Podemos definir êxodo rural como sendo o deslocamento de pessoas da zona rural (campo) para a zona urbana (cidades). Ele ocorre quando os habitantes do campo visam obter condições de vida melhor. 
Os principais motivos que fazem com que grandes quantidades de habitantes saiam da zona rural para as grandes cidades são: busca de empregos com boa remuneração, mecanização da produção rural, fuga de desastres naturais (secas, enchentes, etc.), qualidade de ensino e necessidade de infraestrutura e serviços (hospitais, transportes, educação, etc.).
O êxodo rural provoca, na maioria das vezes, problemas sociais. Cidades que recebem grande quantidade de migrantes, muitas vezes, não estão preparadas para tal fenômeno. Os empregos não são suficientes e muitos migrantes partem para o mercado de trabalho informal e passam a residir em habitações sem boas condições (favelas, cortiços, etc.). 
Além do desemprego, o êxodo rural descontrolado causa outros problemas nas grandes cidades. Ele aumenta em grandes proporções a população nos bairros de periferia das grandes cidades. Como são bairros carentes em hospitais e escolas, a população destes locais acaba sofrendo com o atendimento destes serviços. Escolas com excesso de alunos por sala de aula e hospitais superlotados são as consequências deste fato.
Êxodo Urbano: tipo de migração que se dá com a transferência de populações urbanas para o espaço rural. Hoje em dia é um tipo de migração muito incomum.
Migração urbano-urbano: tipo de migração, que se dá com a transferência de populações de uma cidade para outra. Tipo de migração muito comum nos dias atuais.
Migração sazonal: tipo de migração que se caracteriza por estarem ligadas as estações do ano. É uma migração temporária onde o migrante sai de um determinado local em um determinado período do ano, e posteriormente volta, em outro período do ano, é a chamada transumância. É o que acontece, por exemplo, com os sertanejos do Nordeste brasileiro.
Migração diária ou pendular: tipo de migração característico de grandes cidades, no qual milhões de trabalhadores saem todas as manhãs de sua casa em direção do seu trabalho, e retornam no final do dia. Os momentos de maior aglomeração de pessoas são chamados de rush. Isso se dá em virtude da periferização dos trabalhadores que muitas vezes moram a vários quilômetros de distância de seu trabalho, em alguns casos até mesmo em outras cidades que passam a ser chamadas de cidades dormitório.

Migração e preconceito
As migrações, apesar de serem fundamentais na história de todos os povos, promovendo desenvolvimento e intercambio cultural, muitas vezes são a causa de conflitos. Isso ocorre tanto em migrações externas como também nas internas.
No Brasil, sobretudo na região Sudeste e também na Sul, costuma-se difundir uma visão equivocada de que a grande concentração de nordestinos nessas regiões seria a causa de problemas sociais dos grandes centros urbanos, como, por exemplo, a violência e o desemprego.
A intolerância aos migrantes muitas vezes pode levar a ações violentas. Preconceitos de cunho social e racial acompanharam a migração nordestina no centro-sul do país. Em decorrência de sua pobreza material original e das condições pouco favoráveis encontradas no destino, restou aos migrantes nordestinos ocupar as áreas pobres e de periferia dos centros urbanos. A partir da década de 1950, a falta de moradias e os aluguéis caros obrigavam os migrantes a ocuparem áreas periféricas, onde adquiriam lotes à prestação e erguiam moradias com as próprias mãos e com recursos próprios.
Os nordestinos que chegaram ao pós-guerra encontraram um ambiente bem menos favorável à ascensão social que os imigrantes europeus que chegaram a São Paulo no início do século XX. Quando a migração nordestina aumentou, as fronteiras da sociedade industrial já estavam devidamente marcadas e as oportunidades de mobilidade já eram mais restritas. Os imigrantes europeus em São Paulo já haviam ocupado os cargos qualificados e semi qualificados dos postos de trabalho, restando aos nordestinos às profissões subalternas e não qualificadas.
Do ponto de vista racial, a maioria dos migrantes nordestinos que chegavam eram mulatos ou mestiços acaboclados, de estatura baixa, pobres e analfabetos, ou semianalfabetos. Em um país como o Brasil onde, até os dias atuais, o padrão branco europeu é o mais valorizado, a presença maciça de nordestinos pobres e mestiços em São Paulo faz com que esse grupo seja percebido como o responsável pela pobreza, violência, pelo desemprego e pela degradação das condições de vida na cidade.
O sociólogo Antônio Sérgio Guimarães compara o racismo antinordestino em São Paulo à xenofobia contra imigrantes existente atualmente na Europa. Em pesquisa em bairros de classe-média baixa de tradicional imigração europeia da capital paulista, o sociólogo se deparou com a naturalidade com que os "nativos", muitos deles descendentes de europeus, expressavam seu preconceito contra nordestinos, os quais são chamados invariavelmente de "baianos", mesmo que sejam de outros estados do Nordeste.
Um caso que ganhou repercussão na mídia brasileira foi da estudante de direito Mayara Petruso. Em 2010, após a eleição de Dilma Rousseff como presidente, que obteve maioria dos votos no Nordeste, Petruso publicou a seguinte mensagem em uma rede social: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado”. Processada, foi condenada pela Justiça Federal de São Paulo a uma pena de um ano, 5 meses e 15 dias de prisão, que foi convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de multa.

FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 3 / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. – 2ª. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.