Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A Geografia das Indústrias



A indústria é um dos três setores da economia. Os outros dois são os serviços e a agropecuária. A atividade industrial é muito importante nas economias dos países desenvolvidos e de muitos países em desenvolvimento, especialmente os emergentes. Entretanto, não é simples captar a importância do setor industrial na economia de um país. Nos países industrializados mais avançados a maior contribuição para o PIB vem do setor de serviços, não do industrial. Os serviços contribuem em média com 70% do PIB, a indústria com mais ou menos 30% e o setor agrícola com 1% ou 2%.

Setor de serviços - o setor que mais gera empregos e renda  na economia

 Por outro lado, há países muito pobres em que a participação da indústria é muito reduzida, como é o caso de muitos países africanos, que dependem basicamente da agropecuária e as indústrias existentes são, em sua grande maioria, de beneficiamento de alimentos, e outros que, mesmo sendo pobres, a participação do setor industrial é elevado, como muitos países do Oriente Médio, devido à exploração de petróleo. Muitos países africanos dependem exclusivamente da produção agrícola

 A participação da indústria no PIB, não é suficiente para mostrar a importância quantitativa e qualitativa da atividade industrial de um país. Por isso, a Organização de Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (Unido) trabalha com o índice de competitividade industrial, um indicador que mede várias dimensões desse setor de atividade em 122 países. Com base nele é possível avaliar de forma mais abrangente a importância da indústria e seu grau de desenvolvimento tecnológico.
Produção de petróleo - fator que eleva o índice de competitividade industrial de muitos países
 
O índice de competitividade industrial é composto de quatro dimensões:
a) Capacidade industrial - medida pelo valor industrial agregado per capita;
b) Capacidade de exportação de produtos industrializados - medida pela exploração de maquinofaturados per capita;
c) Intensidade de industrialização - medida pela participação do setor industrial no PIB e de produtos de alta e média tecnologia no valor industrial agregado;
d) Qualidade da exportação - medida pela participação dos produtos industrializados e dos bens de alta e média tecnologia no total das exportações.
   Entretanto, as atividades agrícolas, o comércio e os serviços não funcionariam caso não existisse a indústria. A agricultura moderna utiliza ferramentas, sementes selecionadas, adubos, inseticidas, máquinas e diversos outros insumos produzidos industrialmente; as diversas lojas existentes nas cidades - de roupas, sapatos, eletrodomésticos, automóveis, móveis etc. -, além de supermercados e farmácias, não teriam mercadorias para vender caso não existisse a indústria de bens de consumo.
Agricultura moderna - exemplo de utilização dos produtos industriais
 
O mesmo se dá com a maioria das atividades de prestação de serviços. Não existiria manutenção de diversos aparelhos, fornecimento de energia elétrica, de água, as telecomunicações, os transportes, entre outros, se não fossem a indústria de bens de capital para produzir os equipamentos necessários para esses serviços essenciais funcionarem.
  Sem contar que para uma indústria funcionar são necessários serviços de administração, limpeza, transporte, manutenção, alimentação, segurança etc., gerando muitos empregos no setor de serviços.
  A crescente automatização, especialmente nos países desenvolvidos e em alguns emergentes, tem reduzido relativamente o número de pessoas empregadas na indústria. Hoje, nos países industriais mais avançados a maioria dos trabalhadores está empregada no setor de serviços. Quanto mais avançada uma economia, menos trabalhadores são empregados na indústria e mais nos serviços.
Robotização - principal responsável pelo desemprego na indústria

CLASSIFICAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

  Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) do IBGE, todas as atividades desenvolvidas na economia brasileira estão classificadas em 21 grandes categorias: A - Agricultura, pecuária, produção florestal e silvicultura; B - Pesca; C - Indústrias extrativas; D - Indústria de transformação; E - Produção e distribuição de eletricidade, gás e água; F -Construção; G - Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos; e assim vai, até chegar a letra U. Cada uma dessas atividades é dividida em setores e subsetores. A classificação da CNAE segue padrões internacionais utilizados em levantamentos estatísticos para permitir comparações entre o Brasil e outros países.
Educação - classificação M

  A CNAE classifica toda a produção industrial brasileira em duas grandes categorias: indústrias extrativas, dividida em 5 setores - extração de petróleo e gás natural, extração de minerais metálicos etc. - e indústrias de transformação, distribuídas em 24 setores - fabricação de produtos alimentícios, de máquinas e equipamentos, metalurgia etc. Indústria alimentícia - tipo de indústria de transformação

  O que comumente é chamado de indústria da construção civil, o IBGE chamou de construção (item F da lista da CNAE), categoria que abriga os setores de construção de edifícios e de obras de infraestrutura. Indústria da construção civil

  Há outra classificação, com base na qual o órgão do IBGE coleta dados e divulga os Indicadores da produção industrial por categorias de uso. Nessa classificação, o órgão agrupa todos os setores e subsetores das indústrias de transformação da CNAE em três categorias, que são:

Segundo a função
a) Indústrias germinativas - são as que geram o aparecimento de outras indústrias. Exemplo: petroquímica petroquímica  exemplo de indústria germinativa

b) Indústrias de ponta - são as indústrias dinâmicas, que comandam a produção industrial. Exemplo: indústrias químicas e automobilística. Indústria automobilística - também chamada de indústria de ponta

Segundo a tecnologia
a) Indústrias tradicionais - são as que ainda estão ligadas às vantagens oriundas da Primeira Revolução Industrial. Podem ser empresas familiares (empresas "clânicas") e denunciam sua presença pelos seus aspectos internos e externos e por sua localização. Indústria de calçados - exemplo de indústria tradicional
b) Indústrias dinâmicas - são aquelas ligadas ao desenvolvimento recente da química, eletrônica e petroquímica. Utilizam muito capital e tecnologia e relativamente pouca mão de obra. Possuem uma flexibilização maior de localização. Indústria aeroespacial - exemplo de indústria dinâmica

Segundo a aplicação dos recursos ou fatores
a) Indústrias capital-intensivas - as que aplicam os maiores recursos nos fatores capital-tecnologia. Agroindústria - exemplo de indústria capital-intensiva

b) Indústrias trabalho-intensivas - as que empregam os maiores recursos em força de trabalho. Produção de telhas - um exemplo de indústria trabalho-intensiva
   Considerando os bens produzidos, o IBGE classifica as indústrias de transformação em três categorias: indústrias de bens intermediários, de bens de capital e de bens de consumo.
a) Indústrias de bens intermediários - fabricam produtos semiacabados utilizados como matérias-primas por outros setores industriais. São também chamadas de indústrias pesadas por transformarem grandes quantidades de matérias-primas. Tendem a se localizar perto dos recursos naturais ou de portos e ferrovias, o que facilita a recepção de matérias-primas e o escoamento da produção. São exemplos dessa indústria a siderúrgica, a petroquímica, a de celulose e papel, a de cimento etc. 
Produção de aço em uma indústria siderúrgica

b) Indústrias de bens de capital - são responsáveis por equipar as indústrias em geral, assim como a agricultura, os serviços e toda a infraestrutura. Tendem a se localizar em lugares onde há boa infraestrutura industrial, nas proximidades de empresas consumidoras de seus produtos, ou seja, em grandes regiões urbano-industriais. São exemplos desse tipo de indústria as máquinas e equipamentos para: indústrias em geral, agricultura, transportes, geração de energia etc.
Máquinas agrícolas - exemplo de indústria de bens de capitais
c) Indústrias de bens de consumo - também chamadas de indústrias leves, são as mais dispersas espacialmente: estão localizadas em grandes, médios e pequenos centros urbanos, ou mesmo na zona rural de diversos países. Porém, concentram-se preferencialmente em regiões urbano-industriais onde há maior disponibilidade de mão de obra e mais facilidade de acesso ao mercado consumidor. Divide-se em: 

1. Indústrias de bens de consumo não duráveis - são as indústrias que atuam na produção de mercadorias perecíveis, ou seja, em produtos que devem ser consumidos em um curto período de tempo, como a indústria alimentícia, de bebidas, de remédios etc. Exemplo de produto da indústria de bens de consumo não duráveis

2. Indústrias de bens de consumo semiduráveis -  são aquelas que produzem itens cujo tempo de duração não é muito curto nem muito longo, como por exemplo as indústrias de vestuário, acessórios, calçados etc. Indústria têxtil - exemplo de indústria de bens de consumo semiduráveis

3. Indústrias de bens de consumo duráveis - atuam na produção de mercadorias de grande vida útil, como as indústrias de móveis, eletrodomésticos, automóveis etc. Automóveis - exemplo de produto da indústria de bens de consumo duráveis.

ESTRUTURA E DISTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
  Em 2009, a atividade industrial era responsável por 29% do PIB brasileiro. Segundo o IBGE, as atividades  mais importantes em 2007 foram: refino do petróleo e produção de álcool (15,3%), alimentos (12,2%), produtos químicos (10,3%), fabricação e montagem de veículos automotores (8,5%), metalurgia básica (7,9%) e máquinas e equipamentos (6,0%), responsáveis por aproximadamente 60% do total do valor da transformação industrial do país. Porém vem crescendo bastante o investimento em indústrias ligadas às novas tecnologias, como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicação, mecânica de precisão e biotecnologia. 
Vem crescendo no Brasil o uso de tecnologia de ponta. 
  Essa modernização do parque industrial ganhou impulso com a instalação de diversos parques tecnológicos (ou tecnopolos) espalhados pelo país e que estimulam a parceria entre universidades, instituições de pesquisa e as empresas privadas. Buscam maior competitividade e desenvolvimento de produtos e localizam-se próximos aos maiores centros universitários, em locais onde há disponibilidade em mão de obra especializada, rede de transportes, energia e comunicações que permitam conexão com outros centros de pesquisa localizados no país ou no exterior.
  No Brasil, os parques tecnológicos aparecem em todas as regiões. Os principais estão localizados em:

  • São Paulo, Campinas e São José dos Campos (SP), Santa Rita do Sapucaí e Viçosa (MG) e Rio de Janeiro (RJ), no Sudeste;
  • Fortaleza (CE), Recife (PE), Campina Grande (PB) e Aracaju (SE), no Nordeste;
  • Cascavel (PR), Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS), no Sul;
  • Brasília (DF), no Centro-Oeste;
  • Manaus (AM) e Belém (PA), no Norte.
  Entre os aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira, podemos destacar:

  • grande potencial de expansão do mercado interno com desconcentração de produção e consumo (que vem se fortalecendo pelas políticas de transferência de renda promovidas pelos governos federal, estaduais e municipais);
  • os aumentos nas exportações de produtos industrializados, mesmo que em ritmo inferior ao dos produtos primários devido às crescentes importações chinesas;
  • o aumento na produtividade; e
  • a melhora da qualidade dos produtos.
  A indústria ainda enfrenta, porém, vários problemas que aumentam os custos e dificultam a maior participação no mercado externo, tais como:

  • problemas de logística: deficiências e altos preços nos transportes;
  • baixo investimento público e privado em desenvolvimento tecnológico;
  • baixa qualificação da força de trabalho;
  • elevada carga tributária;
  • barreiras tarifárias e não tarifárias impostas por outros países à importação de produtos brasileiros.
  A abertura da economia brasileira na década de 1990 facilitou a entrada de muitos produtos importados, forçando as empresas nacionais a se modernizar e incorporar novas tecnologias ao processo produtivo para concorrerem com as empresas estrangeiras. Apesar da modernização continua havendo aumento no contingente de trabalhadores na indústria de todos os gêneros, porém, esse aumento não acompanhou o ritmo de ingresso de mão de obra no mercado de trabalho.

DESCONCENTRAÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL
  Em função de fatores históricos e de novos investimentos em infraestrutura de energia e transportes, entre outros, o parque industrial brasileiro vem se desconcentrando e apresenta uma maior dispersão espacial dos estabelecimentos industriais em regiões historicamente marginalizadas.

 Embora desde o início do século XX o eixo São Paulo-Rio de Janeiro seja responsável por mais da metade do valor da produção industrial brasileira, até a organização espacial das atividades econômicas era dispersa. As atividades econômicas regionais progrediam de forma quase autônoma. A região Sudeste, onde se desenvolvia o ciclo do café, quase não interferia nem sofria interferência das atividades econômicas que se desenvolviam no Nordeste (cana, tabaco, cacau e algodão) ou no Sul (carne, indústria têxtil e pequenas agroindústrias de origem familiar). As indústrias de bens de consumo, a maioria ligada aos setores alimentício e têxtil, escoavam a maior parte de sua produção apenas em escala regional. Somente um pequeno volume era destinado a outras regiões, não havendo significativa competição entre as empresas instaladas nas diferentes regiões do país, consideradas até então arquipélagos econômicos regionais.
Mapa das principais atividades econômicas desenvolvidas no Brasil no século XIX

  Com a crise do café e o impulso à industrialização, comandada pelo Sudeste, esse quadro se alterou. A oligarquia agrária do setor cafeeiro deslocou investimentos para o setor industrial, implantando, principalmente em São Paulo, fábricas modernas para os padrões da época. O governo federal, presidido por Getúlio Vargas, promoveu a instalação de um sistema de transportes integrando os arquipélagos econômicos regionais. Houve uma invasão de produtos industriais no Sudeste e nas demais regiões do país, o que levou muitas indústrias, principalmente nordestinas, à falência. Assim, com a crise do café, iniciou-se o processo de integração dos mercados regionais, comandado pelo centro econômico mais dinâmico do país, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro.
Eixo Rio de Janeiro - São Paulo - Belo Horizonte
- principal área industrial e comercial do Brasil

  Além de terem se iniciado com mais força no Sudeste, as atividades industriais tenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois fatores básicos:

  • complementaridade industrial: as indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo às automobilísticas; as petroquímicas, próximo às refinarias etc.; e
  • concentração de investimentos públicos no setor de infraestrutura industrial: pressionados pelos detentores do poder econômico, os governantes costumam atender às suas reivindicações. O governo gastaria menos concentrando investimentos em determinada região em vez de distribuí-lo pelo território nacional, sobretudo no início do processo de industrialização, quando os recursos eram mais escassos.
  A primeira grande ação governamental para dispersar o parque industrial aconteceu em 1968, quando foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e instalado um polo industrial naquela cidade, o que promoveu grande crescimento econômico. A seguir, como resultado dos Planos Nacionais de Desenvolvimento dos governos Médici e Geisel, no final de década de 1970 e início da seguinte começaram a ser inauguradas as primeiras usinas hidrelétricas nas regiões Norte e Nordeste: Tucuruí, no rio Tocantins; Sobradinho, no São Francisco, e Boa Esperança, no Parnaíba. Quando o governo passou a atender ao menos parte das necessidades de infraestrutura das regiões historicamente marginalizadas, começou a haver  um processo de dispersão do parque industrial pelo território, não apenas em escala nacional, mas regional. Usina de Sobradinho - contribuiu para impulsionar a indústria no Nordeste

  Além da alocação de infraestrutura, ao longo da década de 1990, as indústrias passaram a se dispersar em busca de mão de obra mais barata, provocando a intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzem impostos e oferecem outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas.
  Mesmo no estado de São Paulo, o mais equipado do país quanto a infraestrutura de transportes e energia, historicamente houve maior concentração de indústrias na Região Metropolitana de São Paulo.
  Atualmente, seguindo uma tendência já verificada em países desenvolvidos, onde ocorre o processo de deslocamento de indústrias em direção às cidades médias do interior, que, por isso, apresentam índices de crescimento econômico superiores aos da Grande São Paulo. Isso é possível graças ao grande desenvolvimento da informática e à modernização da infraestrutura de produção de energia, transporte e comunicação, criando condições de especialização produtiva por intermédio da integração regional. As regiões tendem, atualmente, a se especializar em poucos setores da atividade econômica e a buscar em outros mercados (do Brasil ou do exterior) as mercadorias que satisfaçam as necessidades diárias de consumo da população.


FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 3: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2011.


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